Porto Nada Alegre !

Adroaldo, cuja mulher o chamava carinhosamente de Chuchu, e Marisa, a Mimo, era, digamos, um novo casal, recém juntados e que ainda estava naquela fase que o marido ainda não passa o domingão bebendo cerveja, atirado no sofá vendo filmes de pirata e ela, já bem gorda, fazendo bolinhos de chuva apesar de não ter nuvem alguma no céu.

Ainda estavam na fase de que tudo era novidade. Faziam um miojo à noite mas apagavam as luzes e deixavam uma vela acesa na mesa para ficar mais romântico. O Sonrisal misturado com água dava o clima de um espumante cover. Era um casal feliz !

E, como todo casal feliz, a energia positiva ao seu lado e as oportunidades íam surgindo. Adroaldo era daqueles que vestia duas camisas da empresa, uma por cima da outra, de tão dedicado. Em um belo dia veio a notícia.

O dono da fábrica de artefatos bélicos, patrão do Adroaldo, lhe dá um recado curto e grosso: "Preciso de ti em Porto Alegre. Aquilo lá está virando um novo complexo do Alemão e precisamos expandir nossos negócios. Semana que vem tu fazes a mudança. Vais abrir a nossa primeira filial".

A empresa tinha sua matriz em Águas Calmas. Os negócios estavam crescendo e lá se foi o Chuchu e a Mimo para Porto Alegre.

Como o salário era bom, o casal podia morar em um lugar tranquilo e seguro. Porto Alegre estava diariamente nas manchetes dos jornais brasileiros pois tinha se tornado uma cidade nada alegre e muito violenta.

E o condomínio ideal foi encontrado em um anúncio nos classificados:

"Excelente apartamento em bairro nobre, vidros de lotérica, paredes de bunker, porta giratória que nem banco na saída dos elevadores, andares codificados, câmeras de segurança até nos banheiros, churrasqueira na sacada à prova de bala perdida, botões pânico em todas as dependências, grades nas janelas em todos os andares e, na cobertura, metralhadora anti-aérea inclusa.

No condomínio, tricheiras para as crianças, minas terrestres nos jardins, eclusa e guarita blindada, vaga para dois tanques de guerra na garagem.

Venha morar atrás das grades. Venha morar no Condomínio Paraíso !"

E eles foram ! Na primeira semana em Porto Alegre, Adroaldo foi executado na saída do trabalho pois não entregou o cartão de orelhão que tinha no bolso e Marisa morreu no enterro do marido, no cemitério Jardim da Paz, por uma bala perdida em uma troca de tiros entre gangues na Lomba do Pinheiro.

Bem-vindos a Porto Alegre !

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